Prémio Norberto Fernandes

Proposta Stefanie Pullin

O projecto para a exposição será concebido como uma jornada sensorial que convida os visitantes a explorarem os diversos aspectos da relação entre a natureza e o ser humano. Encarando este projecto como uma continuação da sua pesquisa e criação artística, Stefanie Pullin, a mostra abordará os temas da ocupação do espaço, da capacidade de  destruição e construção, da ordem e do caos, da consciência e do instinto. Através de suas obras, os visitantes serão guiados por um destacando a interconexão entre o sagrado e o profano.

Mircea Eliade, renomado historiador das religiões, argumentava que, ao entrar em contato com o sagrado, os indivíduos experimentam uma ruptura com o tempo profano, tornando esse momento único e sacralizado. Por outro lado, o profano representa o espaço e o tempo ordinários, desprovidos de significado religioso intrínseco. Eliade enfatiza a importância da hierofania, momentos em que o sagrado se manifesta no mundo profano, criando uma ponte entre as duas realidades e permitindo aos indivíduos uma experiência de transcendência no cotidiano. Essa distinção fundamental entre sagrado e profano é essencial para a compreensão das práticas da busca humana por significado e elevação física e espiritual.

Stefanie Pullin tenciona explorar através da sua técnica consciente, caracterizada pela repetição, construção e destruição na pintura, uma busca pela transcendência a través da experimentação com a matéria e a interpretação da energia e os elementos pictóricos de um determinado espaço. A verticalidade em sua obra espelha a ambiguidade intrínseca à condição humana, investigando a dualidade de elevar-se espiritualmente enquanto permanece conectado e enraizado na realidade terrena. Iso refere-se às linhas que estruturam a composição das telas: ao mesmo tempo em que conferem uma aparência de permanente humidade, escorrimento, fluidez, interligam céu e terra, espaço aéreo e raízes profundas, deslocamento e enraizamento. Além disso, aborda a propensão para considerar-se como uma entidade separada da natureza, quando, na essência, é apenas mais um elemento intrínseco a ela.

A transcendência e a ancoragem nas experiências mundanas coexistem e fazem parte de uma realidade composta de dualidades opostas. A relação entre sua criação artística e experiências em determinados espaços permite a transformação de espaços pictóricos físicos e imaginários, assim como também da interpretação espaço à das sensações e energias que um determinado local pode evocar, proporcionando uma experiência que abre portas à interpretação e questionamento do observador.

A obra imersiva de Pullin, composta por três painéis de 1.5m x 3m, será uma instalação inspirada na Ilha de São Miguel dos Açores, representando um limbo entre o local de seu nascimento, Guatemala, e o lugar que escolheu viver: Portugal. Essa criação oferecerá uma experiência imersiva, destacando a interconexão entre diferentes lugares e a complexidade da noção de lar, pertença e identidade. O nome do projecto será definido quando a proposta for finalizada.